O dólar encerrou o pregão desta quinta-feira (3) em alta com as tensões crescentes no Oriente Médio e dados fortes do mercado de trabalho dos EUA no radar, dissipando o impulso doméstico positivo da véspera.
O dólar subiu 0,52%, cotado a R$ 5,4738, em cenário oposto ao visto na última sessão, quando a moeda encerrou em queda de 0,34%.
O temor em relação a alta dos preços do petróleo também impulsionaram as ações da Petrobras, que encerraram em alta de 1,35%.
Por outro lado, a agenda doméstica pressionou negativamente o Ibovespa, que recuou mais de 1% com a queda da Vale (-1,92%) e a cena fiscal no radar dos investidores.
O principal índice da bolsa brasileira caiu 1,38%, aos 131.671,51pontos. Na quarta-feira (2), o índice fechou com valorização de 0,77%, no patamar dos 133 mil pontos.
Os ativos brasileiros devolviam os ganhos da sessão anterior, quando a elevação da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Moody’s gerou otimismo no mercado nacional quanto aos investimentos estrangeiros, gerando apetite por risco no país.
Cenário externo
Fatores externos sobrepunham-se às forças domésticas, com temores por um conflito amplo no Oriente Médio causando aversão ao risco e dados sólidos dos EUA, com destaque para o PMI de serviços, afastando mais as chances de um afrouxamento monetário agressivo no Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA).
O Irã realizou na terça seu maior ataque contra Israel até então, lançando uma série de mísseis balísticos no território israelense. EUA e Israel prometeram retaliação, ampliando as perspectivas de uma guerra regional mais ampla e gerando aversão ao risco nos mercados.
Na agenda macroeconômica, dados mostraram que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego nos EUA subiram para 225.000 na semana encerrada em 28 de setembro, de 219.000 revisados ligeiramente para cima na semana anterior.
Apesar de o número ter sido acima do esperado — economistas consultados pela Reuters projetavam 220.000 pedidos — o resultado fortalece o argumento de que o mercado de trabalho norte-americano passa por um esfriamento moderado, o que indica cortes graduais nos juros do Federal Reserve.
“No geral, eu vejo um ambiente mais propício para fortalecimento da moeda norte-americana, tanto por essa questão de uma certa aversão ao risco, quanto pela questão do pouso suave da economia”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Após os dados, operadores ainda colocavam 64% de chance de uma redução de 25 pontos-base na taxa do Fed, um cenário positivo para o dólar após projeções anteriores apontarem para um afrouxamento mais agressivo.
Cenário doméstico
Na terça-feira, após o fechamento dos mercados, a agência de classificação de risco Moody’s elevou a nota do Brasil de Ba2 para Ba1 e manteve a perspectiva positiva, deixando o país a um degrau do chamado grau de investimento, classificação dada a países vistos como de baixo risco de calote.
A notícia contribuiu para a valorização do real na sessão de quarta-feira, com a moeda brasileira indo na contramão de seus pares fortes e emergentes, que digeriam o aumento das tensões entre Israel e Irã e dados fortes de emprego no setor privado dos Estados Unidos.
Segundo analistas, no entanto, a mudança anunciada pela Moody’s não reverteu preocupações dos agentes financeiros locais com o equilíbrio das contas públicas.
“O mercado digeriu bem a questão da Moody’s (…) mas não comprou que melhorou a perspectiva fiscal com esse ‘upgrade’. Pelo contrário, ainda muito precisa ser feito na contenção de gastos”, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
As atenções se voltavam para a divulgação de dados do Tesouro Nacional, em busca de sinais sobre a situação das contas brasileiras.
Segundo o Tesouro, o governo central registrou déficit primário de R$ 22,404 bilhões em agosto, ante um saldo negativo de R$ 26,730 bilhões no mesmo mês do ano passado. O dado veio em linha com o esperado por economistas.
*Com informações de Reuters