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Como a crise da ex-Odebrecht está tirando a Braskem da corrida global das petroquímicas

Faz pouco mais de dez anos que a Braskem, maior empresa brasileira do setor petroquímico, vem sofrendo os efeitos de uma crise vivida por seu controlador – a Novonor, o grupo da família Odebrecht. O principal deles é que, durante boa parte dessa década, a companhia esteve à venda e não conseguiu chegar a um bom termo em nenhuma das negociações que ocorreram.

O impasse inviabilizou grandes projetos de investimento nesses últimos anos, e pode ter deixado a companhia um pouco atrasada em relação a seus pares. É aquela história: se você está vendendo a sua casa, é até provável que se gaste algum dinheiro para consertar um vazamento, mas certamente não vai investir em mudanças estruturais, como a construção de uma garagem subterrânea ou de um novo andar para o imóvel.

Desde outubro de 2017, o melhor momento da companhia em termos de valor de mercado, a Braskem encolheu cerca de US$ 11 bilhões em valor de mercado, ou cerca de R$ 61 bilhões.

Muitas outras coisas aconteceram desde então e, portanto, contribuíram para essa derrocada: o desastre ambiental em Maceió pelo qual a Braskem foi responsabilizado, e que custou cerca de R$ 18 bilhões; e um ciclo de baixa do setor petroquímico, período em que os preços dos produtos vendidos pela companhia caem com força no mercado internacional.

Não bastasse tudo isso, a empresa pode sentir o efeito negativo de outro fato: o surgimento de um novo grupo do setor petroquímico, o Borouge Group International, resultado da junção de forças da Adnoc, de Abu Dhabi, e OMV, da Áustria. A nova empresa nasce com valor de mercado de US$ 60 bilhões – mais de sete vezes o tamanho da Braskem. E será formado por duas joint ventures: a Borealis (75% de propriedade da OMV e 25% da Adnoc) e Borouge (54% de propriedade da Adnoc e 36% da Borealis).

Além disso, a Borouge vai comprar a Nova Chemicals, do Canadá, do fundo soberano de Abu Dhabi Mubadala por US$ 13,4 bilhões. Isso significa que, finalmente, a Adnoc vai conseguir colocar os pés nas Américas. A junção das três empresas petroquímicas deve gerar uma economia de cerca de US$ 500 milhões por ano.

Fora do altar

A fina ironia do destino é que a Adnoc, empresa estatal de petróleo dos Emirados Árabes, desistiu da compra da Braskem aos 45 minutos do segundo tempo – mais precisamente, em maio de 2024, depois de ter realizado a due diligence, que é um período em que o potencial comprador faz uma análise mais profunda da situação da empresa que pretende comprar.

Segundo fontes, os árabes detectaram alguns “pontos cegos” no processo de definição do valor da empresa. Um deles era a pressão do governo de Alagoas por uma indenização adicional pelo desastre ocorrido na mina de Sal-gema, em Maceió. O risco de surgirem custos ainda maiores atrapalhava a definição do valor do negócio. E um outro tem a ver com a própria Petrobras e sua indecisão sobre permanecer ou não no negócio.

Assim que a Adnoc anunciou que não iria seguir na negociação com a Braskem, a petroleira acertou a compra da alemã Covestro por cerca de US$ 15 bilhões. E, na opinião de quem acompanha o setor, os negócios não param por aí: a Adnoc vem demonstrando apetite – e bolso – para fazer outras aquisições.

A criação desses grandes grupos petroquímicos representa uma ameaça adicional para a Braskem porque eles chegam super competitivos ao mercado. A empresa controlada pela antiga Odebrecht é a maior produtora de resinas do Brasil e era classificada como a sexta maior indústria petroquímica do mundo. A formação do grupo capitaneado pela Adnoc pode levar à perda de algumas posições da empresa nesse ranking.

Mas o maior problema, explica João Luiz Zuñeda, sócio-fundador da consultoria MaxiQuim, é que as grandes companhias do mundo estão aproveitando o momento de baixa da petroquímica no mundo para se consolidar e investir em expansão. E, como a Braskem está de certa forma “travada”, sem nenhum grande projeto de expansão, ela corre o risco de ficar pequena demais nesse mercado.

“A Braskem, que é uma grande multinacional brasileira, corre o risco de ficar pequena quando comparada aos grandes players globais, e acabar perdendo o olhar do mundo”, diz. “Quanto mais tempo ela perder, mais difícil será de reverter esse quadro. E aí, o risco é que aquela baita empresa, na qual se investiu tanto, acabe saindo do foco do mundo.”

Correndo atrás

Não é que a companhia não esteja fazendo nada: para enfrentar o cenário desafiador, a Braskem tem implementado medidas como a migração da nafta para o etano, a expansão da produção no complexo de Duque de Caxias (RJ) e a busca por matérias-primas mais competitivas. A empresa também planeja aumentar a oferta de produtos de fonte renovável e buscar medidas de proteção contra importações.

Essas são iniciativas importantes, mas insuficientes para manter a Braskem em uma posição relevante no mercado internacional nos próximos anos, dizem analistas. O último grande investimento feito pela companhia foi a construção de uma planta industrial no México em parceria com a Idesa, para a qual foram destinados US$ 4,5 bilhões.

Esse foi considerado na época o maior investimento greenfield , ou seja, do zero, de uma empresa brasileira no exterior. Mas isso foi em 2016.

Em crise

O que trava a Braskem hoje é, na verdade, a posição de seu principal acionista, Novonor, que detém 50,1% das ações da petroquímica. A Novonor é a antiga Odebrecht, que trocou de nome em 2020 para tentar deixar no passado o peso do envolvimento com a operação Lava-Jato – um rebranding e tanto. Mas foi justamente nesse período de forte retração da antiga Odebrecht – que culminou na Recuperação Judicial da companhia em 2019 – que a saga da Braskem começou.

A Braskem foi criada 2002 pela Odebrecht e o grupo Mariani, por meio da integração de seis empresas. Em 2007, a Petrobras passou a investir na petroquímica e, aos poucos, foi ampliando sua participação. Atualmente, a estatal detém 38,3% da Braskem (os outros 25,6% do capital total estão nas mãos do mercado).

Afinal, a indústria petroquímica é um setor da indústria química que transforma petróleo e gás natural em produtos derivados, como plásticos, tintas, detergentes, embalagens, entre outros. E, quando se olha para o mundo, são as petroleiras – como Adnoc e OMV – os maiores investidores no setor.

A questão é que, entre 2016 e 2018, para conseguir levantar recursos e tentar sair da crise deflagrada pelas denúncias de corrupção de que foi alvo, a Odebrecht entregou as suas ações na Braskem, um ativo super bem avaliado, como garantia de empréstimos bancários junto a cinco instituições: Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES. Na ocasião, essas ações eram avaliadas em R$ 15 bilhões.

Como essa dívida nunca foi paga, a solução para a Novonor seria vender sua participação na Braskem e quitar a pendência com os bancos. Diversas companhias, brasileiras e estrangeiras, mostraram interesse em comprar essa participação. Chegaram a entregar propostas o grupo holandês LyondellBasell, as brasileiras Unipar, J&F e, por fim, a Adnoc – que fez sua primeira ofensiva em parceria com a gestora americana Apollo. Mas nenhuma das negociações avançou por divergências sobre o preço justo. E, mais recentemente, pela dificuldade de acertar um modelo de acionistas que faça sentido para o comprador.

Atualmente, a participação da Novonor na Braskem vale muito menos do que a dívida que a empresa assumiu: a companhia é avaliada em cerca de R$ 7,7 bilhões e a fatia da Novonor vale aproximadamente R$ 4 bilhões, quase quatro vezes menos que a dívida original.

A última proposta negociada entre todas as partes envolvia a transferência das ações para um fundo com gestão independente. Isso transformaria os bancos credores em co-controladores da Braskem, com a Novonor mantendo uma participação minoritária. Nesse formato, não seria preciso encontrar um comprador para a fatia que hoje pertence à Novonor e os bancos poderiam se desfazer de sua participação aos poucos. E escolher o melhor momento para vender os papéis.

Caindo na real

A proposta ainda está à mesa, mas não se concretizou. E ela parece atender ao que é hoje a convicção de muitos especialistas do setor: a venda da fatia da Novonor não é mais uma possibilidade. A perda de valor da companhia, os riscos que o desastre de Maceió ainda representam e, sobretudo, a falta de entendimento entre os sócios afastam qualquer eventual comprador. É aquela história: cachorro com mais de um dono pode acabar morrendo de fome.

Para alguns, o mais provável é que a própria Petrobras acabe assumindo o controle da companhia – seguindo a tendência internacional de investimento de petroleiras no setor petroquímico. A dúvida é se isso significaria uma espécie de estatização informal da companhia – e se isso seria uma boa notícia para o investidor.

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