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Bancos brasileiros batem gringos e solidificam liderança no mercado de crédito privado local

O distrito financeiro no centro de São Paulo. Fotógrafo: Victor Moriyama/Bloomberg

Um aumento nos fundos de crédito privado e um recorde nas vendas de títulos locais estão ajudando os maiores credores do Brasil a conquistar uma fatia do mercado dos bancos de investimentos concorrentes norte-americanos.

O Bank of America caiu do segundo lugar, em 2023, para terceiro neste ano, quando o banco cedeu terreno para os pesos-pesados locais como o Itau Unibanco e o BTG Pactual, que subiu uma posição. Os dados são da Dealogic, até 31 de outubro. O JPMorgan Chase, o maior banco dos EUA, também perdeu participação no mercado.

O sucesso dos bancos locais decorre, em parte, de suas relações com os clientes de varejo do país, que têm comprado mais títulos públicos brasileiros por conta das taxas de juros mais altas e, em alguns casos, à isenção de impostos. Os bancos norte-americanos não têm presença de varejo no Brasil.

Posição em 2023 Banco Receita líq. (US$ mi) Market Share (%) Posição em 2024 Banco Receita líq.
(US$ mi)
Market Share (%)
1. Itau BBA 78 12,4 1. Itaú BBA 87 14,7
2. BofA 64 10,1 2. BTG 63 10,6
3. BTG 56 8,9 3. BofA 48 8,1
4. Morgan Stanley 46 7,2 4. UBS 47 7,9
5. Santander 40 6,4 5. Bradesco 42 7,1
6. UBS 36 5,7 6. Santander 37 6,3
7. Bradesco 35 5,6 7. Citi 33 5,7
8. JPMorgan 34 5,3 8. JPMorgan 30 5,0
9. XP 32 5,0 9. Goldman 29 4,9
10. Citi 28 4,4 10. XP 27 4,7
Fonte: Dealogic. Nota: Cifras são do acumulado anual até 31 de outubro.

“Os bancos brasileiros, que têm um balanço patrimonial local mais forte, têm mais apetite para comprar títulos locais e mantê-los em seus livros, se necessário, vendendo-os no futuro”, disse Felipe Thut, chefe de renda fixa e produtos estruturados do Banco Bradesco, com sede em Osasco, cuja participação de mercado subiu de 5,6% em 2023 para 7,1% este ano. “Assim, eles podem oferecer às empresas uma subscrição completa, uma prática que vem ganhando importância no Brasil desde 2018.”

Ainda assim, o total de comissões de banco de investimento caiu para US$ 591 milhões este ano até 31 de outubro, uma queda de 6,1% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Dealogic. Um ano mais fraco para a emissão de equities foi o culpado, já que o volume caiu 18% em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 30,8 bilhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

A receita do Itaú com taxas de corretagem e trabalhos de consultoria financeira e econômica aumentou 51% nos primeiros nove meses de 2024, de acordo com suas demonstrações de resultados, enquanto o BTG disse que sua receita de banco de investimento mais do que dobrou no primeiro semestre.

A demanda por crédito privado tem crescido à medida que a política monetária do Brasil diverge da maior parte do resto do mundo, com as taxas de juros de referência subindo no país enquanto caem em muitas outras grandes economias. As mudanças tributárias e o fraco desempenho dos fundos de hedge e de ações também incentivaram os investidores a se voltarem para alternativas de renda fixa.

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A emissão de títulos corporativos locais aumentou 88%, atingindo um recorde de R$ 378,7 bilhões (US$ 66,7 bilhões) neste ano até 7 de novembro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

As empresas estão aproveitando a oportunidade para vender dívida com margens historicamente mínimas, de acordo com Cristiano Guimarães, chefe do setor Corporativo e de Investimentos do Itaú, o subscritor líder de títulos locais, segundo os dados. A participação do credor no total de bancos de investimento do Brasil subiu de 12,4% para 14,7%, de acordo com a Dealogic, colocando-o no topo da classificação.

O mercado local vem amadurecendo, com mais transações, tais como operações estruturadas vendidas a clientes de varejo, que geram taxas de banco de investimento mais altas do que os títulos simples oferecidos a investidores institucionais, disse Guimarães.

“Por outro lado – como qualquer ramo que esteja gerando dinheiro – você atrai novos concorrentes que entram no mercado cobrando menos”, disse ele.

O Bank of America reconheceu que sua presença no mercado de títulos locais do Brasil é limitada. Mas a franquia do banco tem uma “posição de destaque em produtos estratégicos, como consultoria em fusões e aquisições, subscrição de ações e títulos globais”, disse Hans Lin, codiretor do banco de investimentos no Brasil.

O volume de negócios em fusões e aquisições está em um ritmo muito maior do que no ano passado, pois muitos investidores estratégicos internacionais com uma visão de longo prazo estão aproveitando a oportunidade de comprar empresas devido ao real mais fraco, disse Lin.

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As transações em que as empresas brasileiras foram o alvo aumentaram 62%, chegando a US$ 35,9 bilhões este ano até 18 de outubro, em comparação com o mesmo período do ano passado, disse a Dealogic.

Bruno Saraiva, codiretor do banco de investimentos do Bank of America no Brasil, acrescentou que “há uma série de transações de fusões e aquisições que estão sendo fechadas agora e espera-se que gerem uma receita significativa no próximo ano”.

O BofA tem trocado de lugar com o Itaú no topo das classificações de receita nos últimos anos, e o BTG sempre teve uma forte presença no mercado. Os bancos norte-americanos tiveram um desempenho melhor em 2018 e 2021, quando muitas empresas brasileiras abriram o capital nas bolsas de valores dos EUA e concluíram ofertas adicionais pagando taxas de até 6,5% do valor total da transação.

A receita do Banco Bradesco SA proveniente de mercados de capitais e consultoria financeira aumentou 27% nos primeiros nove meses do ano, de acordo com suas demonstrações financeiras, e o banco subiu da 7ª para a 5ª posição no ranking da Dealogic.

A receita de banco de investimento atingiu 1,2 bilhão de reais no BTG no primeiro semestre do ano, de acordo com suas demonstrações financeiras, enquanto a receita do Bradesco com consultoria financeira e mercado de capitais foi de 1,16 bilhão de reais nos três primeiros trimestres do ano.

A emissão de títulos tem sido tão forte que o Bradesco contratou 12 banqueiros de investimento este ano para originar negócios e seis pessoas para distribuí-los, disse Thut, do Bradesco, formando uma equipe de 55 pessoas. O banco também decidiu, pela primeira vez, nomear um diretor especificamente encarregado da renda fixa, e Thut ficou com a função. Os negócios de consultoria de fusões e aquisições e de subscrição de ações estão agora sendo liderados por André Moor.

“O mercado de títulos locais triplicou desde 2018 e todos os grandes bancos locais estão se concentrando cada vez mais nele”, disse Thut, acrescentando que espera que o crescimento continue no próximo ano, já que as taxas no Brasil continuam a subir. “Mas o ritmo de aumento do mercado em 2025 deve ser menor.”

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