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Na década de 1920, autoridades soviéticas apostaram na expansão do cultivo de algodão na Ásia. O algodão foi declarado “ouro branco”, e vastas extensões de terra foram irrigadas para sua produção. O problema é que foram utilizadas práticas ineficientes, como técnicas agrícolas ultrapassadas, resultando em um desperdício de água em uma escala tão grande que levou a um desastre ecológico.
A terra secou, e o Mar de Aral — o grande oásis das estepes asiáticas — evaporou. Foi uma grande catástrofe ambiental e serve como um alerta sobre os perigos do curto-prazismo. Essa mesma história se repetiu ao longo da história, mas as lições aprendidas foram efêmeras. Hoje, parece que estamos prontos para repetir os mesmos erros.
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A alimentação dos 8 bilhões de habitantes do planeta depende da expansão da agricultura de pequena escala. Cerca de 35% dos alimentos do mundo são produzidos em pequenas propriedades, de menos de 2 hectares, principalmente em países em desenvolvimento.
No entanto, os pequenos agricultores frequentemente operam com margens muito reduzidas, o que os impede de investir em técnicas ou tecnologias modernas. Em vez disso, o sistema agrícola moderno muitas vezes incentiva a expansão da agricultura ineficiente, impulsionando o desmatamento e acelerando o aquecimento global.
Mas o problema vai além disso, porque o mercado agrícola é ineficiente. Os produtores rurais vendem sua produção em um mercado centralizado, onde as colheitas passam por dezenas de jurisdições, cada uma com seus próprios idiomas, moedas, sistemas legais, padrões de qualidade alimentar e regimes tributários.
Em cada etapa do percurso, do campo à mesa, há um intermediário que retém uma parcela dos lucros. De fato, o agricultor médio recebe apenas 0,03% do lucro sobre sua produção. Isso não apenas priva os produtores rurais de sua autonomia, mas os condena à subsistência.
Os produtores rurais não são contra práticas sustentáveis — eles simplesmente não podem pagar por elas.
Os mesmos obstáculos enfrentados pelos pequenos agricultores e pecuaristas impedem que os formuladores de políticas descarbonizem a agricultura. Ottmar Edenhofer, presidente do Conselho Científico Consultivo Europeu sobre Mudanças Climáticas, afirmou que será “quase impossível” atingir as metas climáticas da União Europeia sem um imposto sobre o carbono na agricultura e pecuária. No entanto, em 2023, as autoridades tiveram que recuar dessa medida por causa de protestos de produtores europeus, que já dependem de subsídios e não podem arcar com uma taxa sobre as emissões.
Por mais que queiram investir em práticas sustentáveis ou preservar os ecossistemas em que vivem, simplesmente eles não têm condições financeiras para isso. Se essa é a situação na Europa, nos países em desenvolvimento é ainda pior. Qualquer plano para descarbonizar a produção rural precisa levar essa realidade em consideração.
O blockchain pode estar no cerne da próxima revolução agrícola.
Os processos obsoletos baseados em papel foram substituídos pela internet, que melhorou a eficiência, mas ainda é amplamente centralizada. Agora, o mundo vem testemunhando uma revolução semelhante com o surgimento da tecnologia blockchain e da inteligência artificial. O blockchain aprimorou processos ao substituir os registros manuais por transações digitais seguras, transparentes e descentralizadas.
É possível que a tecnologia blockchain possa ser utilizada para resolver alguns dos principais problemas que afligem o setor — especialmente para produtores e fornecedores — porque ela oferece duas vantagens essenciais: eficiência e transparência.
As transações no blockchain são liquidadas quase instantaneamente, com taxas mínimas. Isso reduz a barreira de entrada no mercado global, permitindo que os produtores vendam diretamente para os compradores em um mercado descentralizado, eliminando taxas adicionais. Além disso, todas as transações são registradas permanentemente no blockchain, tornando a fraude menos provável e mais difícil de ocultar. Finalmente, o blockchain dá aos agricultores/pecuaristas acesso a capital de giro em uma moeda internacional estável, em vez de uma moeda local volátil.
Tudo isso significa uma coisa: mais dinheiro no bolso dos agricultores. Um mercado descentralizado baseado em blockchain oferece independência e autonomia aos agricultores. O mais importante é que lhes dá acesso ao capital essencial para investir em suas propriedades e terras. Margens de lucro mais altas para pequenos agricultores podem ser transformadoras.
Além das commodities, a tecnologia blockchain também poderia facilitar outros tipos de transações para os produtores, como a venda de terras na Zâmbia ou de máquinas de panificação da África do Sul para o Zimbábue.
Mas como os produtores rurais podem começar a usar a tecnologia blockchain? A tecnologia blockchain oferece a eles uma forma de melhorar a transparência, otimizar operações e acessar novos mercados. Para começar, os produtores rurais devem entender como o blockchain pode beneficiar diretamente suas práticas agrícolas. Por exemplo, pode ser utilizado para rastrear a jornada das colheitas do campo à mesa, garantindo a rastreabilidade e ajudando a construir confiança com os compradores.
Os agricultores/pecuaristas podem explorar plataformas baseadas em blockchain voltadas para a produção, que permitem conexões diretas com compradores e sistemas de pagamento seguros. O investimento inicial em tecnologia blockchain é relativamente baixo para os pequenos — muitas vezes, um smartphone e uma conexão com a internet são suficientes.
O potencial do blockchain é vasto. Sua eficiência inerente pode reduzir custos e melhorar as margens em toda a cadeia; sua transparência pode tornar o sistema mais responsável. Isso pode capacitar os produtores a recuperar sua autonomia e fornecer-lhes os recursos necessários para ajudar no combate às mudanças climáticas. A revolução que a tecnologia blockchain pode trazer tem o potencial de tornar a agricultura verdadeiramente sustentável.
* Henry Duckworth é colaborador da Forbes EUA. Ele faz parte do Forbes Councils, rede exclusiva de comunidades para executivos e empreendedores de alto nível, administrada pela Forbes nos EUA em parceria com a empresa Young Entrepreneur Council (YEC).
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