Acessibilidade
Depois de construir uma carreira bem-sucedida de mais de 20 anos no setor financeiro, Cristiane Sultani mergulhou no empreendedorismo social e na filantropia. “Como executiva, tenho a cabeça treinada para solução de problemas e enfrentamento de riscos.”
À frente do Instituto Beja, fundado por ela em dezembro de 2021, a advogada de formação já liderou investimentos de R$ 60 milhões (na pessoa física e jurídica) em projetos sociais. “Nos preocupamos em usar o dinheiro de forma eficiente. Não como ferramenta de poder, e sim como um recurso com efeito multiplicador.”
Agora, em um novo momento, Cristiane tem como objetivo promover o que chama de “filantropia oxigenada”. “Não estava causando o impacto social que gostaria, então mudei a missão do Beja para impactar a própria filantropia”, explica. Isso significa trabalhar em colaboração, com visão sistêmica e usando tecnologia e inteligência artificial para escalar soluções. “As desigualdades sociais não serão resolvidas em escala em um país de dimensões tão grandes sem o uso de tecnologias.”
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“Não temos uma causa única. Tudo está conectado: educação, saúde e moradia. Atuar em rede é trazer esse olhar sistêmico.”
Cristiane Sultani, fundadora do Instituto Beja
O Beja inaugurou na segunda-feira (4) o Centro de Mudanças Exponenciais no Brasil, importado da Índia, que foi pioneira em desenvolver esse espaço para expandir e solucionar desigualdades no Sul Global. “Fizemos parceria com grandes fundações globais para fomentar o uso de tecnologias no terceiro setor no Brasil”, diz a fundadora. Entre elas, Skoll Foundation, Rohini Nilekani Philanthropies e New Profit.
Instituto Beja e a filantropia estratégica
O Beja nasceu em homenagem ao marido da fundadora, o empresário Pedro Alberto Fischer, que faleceu de câncer em janeiro de 2021. A sede do Instituto, reinaugurada esta semana no Rio de Janeiro, conta com um memorial dedicado a ele.
Antes de criar o Instituto Beja, Cristiane se dedicou a estudar e a construir uma rede de contatos na filantropia, dentro e fora do Brasil. “Herdei uma carteira sem impacto socioambiental, então fui à Suíça estudar investimentos de impacto para entender como poderia fazer essa transição e atuar na filantropia estratégica.”
Aprendeu com grandes consultores globais, foi aluna convidada na Universidade de Genebra e convidada a participar de uma rede global de filantropos, a Synergos, da americana Peggy Rockefeller.
Filantropando
Promover encontros entre filantropos é um dos objetivos do Instituto, que realiza nesta terça (5) a segunda edição do Filantropando. O evento reúne Geyze Diniz, fundadora do Pacto Contra a Fome, e Ticiana Queiroz, fundadora da Somos um Ceará, além de nomes da nova geração de filantropos brasileiros, como Marina Feffer, fundadora do Generation Pledge e herdeira da Suzano, e Rodrigo Pipponzi, cofundador do Grupo MOL e terceira geração da família fundadora da Droga Raia. “A filantropia no Brasil ainda é tímida, são poucos filantropos, mas já vemos uma diferença nas novas gerações”, diz Cristiane.
O evento tem como objetivo tornar o setor mais estratégico, debatendo temas como justiça racial, inteligência artificial e longevidade. Foi investido R$ 1,5 milhão para compor o line up, que traz pesquisadores e ativistas do Brasil e do mundo todo – como Geci Karuri-Sebin, professora na Wits School of Governance em Joanesburgo, na África do Sul; Josimara Baré, da Rede de Fundos Comunitários da Amazônia; Yoanna Okwesa, codiretora da área de Emerging Futures da Joseph Rowntree Foundation, no Reino Unido; e Nina Santos, professora, pesquisadora e diretora do Aláfia Lab, com sede em Salvador.
A curadoria é do Instituto Toriba, de Graciela Selaimen, e a realização, do artista visual Batman Zavareze.
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Desafios tributários
A primeira edição do encontro, em abril de 2023, foi marcada pelo lançamento de uma pesquisa que traçava o perfil dos doadores brasileiros e debatia o futuro da filantropia no país.
Entre as constatações, os impostos aplicados sobre doações foram apontados como uma das principais barreiras para a ampliação do impacto, e o Beja também atua nessa frente. “Trabalhamos com levantamento de dados, fazemos pesquisa, atuamos no advocacy e contribuímos para o setor formar alianças e atuar colaborativamente na reforma tributária”, diz a fundadora. “Nos Estados Unidos, por exemplo, existe uma série de benefícios fiscais e incentivos tanto da pessoa jurídica quanto da física que atraem investimentos filantrópicos.”
A convite da sua amiga Marisa Monte, Cristiane se envolveu no Fundo USP Diversa, destinado a contribuir para o programa de mesmo nome e oferecer bolsas de permanência estudantil. “O pagamento das bolsas é fundamental também olhando para a eficiência do gasto público”, afirma a fundadora do Instituto Beja, que fez a primeira doação, de R$ 5 milhões (o veículo busca R$ 50 milhões por ano). “Trabalhamos em duas frentes: da melhoria do contexto tributário para os fundos patrimoniais e também da política pública para pagamento de bolsas de permanência estudantil pelo governo em todas as universidades no país.”