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Não é só a imigração ilegal. Trump também pretende restringir vistos de trabalhadores qualificados

Por trás da enxurrada de anúncios sobre imigração do presidente Donald Trump em suas duas primeiras semanas no cargo, há um objetivo primordial: receber menos estrangeiros e receber aqueles que, em sua opinião, são melhores para o país.

As medidas do presidente vão muito além de um esforço para reprimir a imigração ilegal, embora esse esforço — uma de suas principais promessas de campanha — tenha chamado mais atenção. Trump também decidiu fechar uma série de vias legais de imigração que, para ele, estavam sobrecarregando a sociedade americana.

Nas duas primeiras semanas de seu segundo governo, Trump fechou todo o sistema de asilo na fronteira sul, negando aos migrantes a chance de buscar segurança, mesmo que tentem fazê-lo por uma porta de entrada legal. O governo cancelou voos para milhares de refugiados já escolhidos a dedo e selecionados para serem legalmente trazidos para os EUA, incluindo afegãos que ajudaram os militares dos EUA e aguardavam uma chance de serem reassentados.

Por meio de uma ordem executiva, ele está tentando acabar com a cidadania por nascimento — princípio fundamental da Constituição de que todos as crianças nascidas nos EUA são cidadãs — na crença de que filhos de estrangeiros não devem ser automaticamente considerados americanos. E, sob a orientação de várias outras ordens que Trump assinou, seu governo está elaborando planos para fazer com que os imigrantes que solicitam vistos passem por rigorosas triagens ideológicas para, por exemplo, garantir que não tenham visões anti-Israel. (O Departamento de Imigração e Alfândega foi orientado a deportar essas pessoas que já estão nos EUA.)

Sua equipe ainda não concluiu suas tarefas.

Imigrantes esperam em fila para conseguir visto temporário americano em Matamoros, na fronteira do México com os EUA.
Imigrantes esperam em fila para conseguir visto temporário americano em Matamoros, na fronteira do México com os EUA. Foto: Bloomberg

Foco em imigrantes mais ricos e escolarizados

Funcionários de imigração do Departamento de Segurança Interna estão trabalhando para reviver uma política de Trump conhecida como regra de cobrança pública (Public Charge), que considera os níveis de educação e riqueza dos solicitantes do green card, além de uma série de outros fatores. Isso é uma tentativa de impedir que os imigrantes se tornem residentes permanentes se, em algum momento no futuro, tiverem de usar programas de benefícios públicos.

Funcionários do Departamento de Estado estão elaborando uma lista de países aos quais Trump imporia proibições parciais ou completas de viagens — uma ordem que deve ir mais longe do que a lista de 11 países de maioria muçulmana que ele proibiu durante seu primeiro mandato. E ele recrutou vários altos funcionários de imigração, que são agora encarregados de restringir o escopo do programa de vistos H-1B para profissionais estrangeiros altamente qualificados, para que apenas imigrantes com as ofertas salariais mais altas possam acessá-lo.

Quando questionado sobre a imigração em seu segundo dia no cargo, Trump enfatizou que não se opunha a todas as formas de imigração. 

“Temos de ter pessoas de qualidade chegando”, disse ele no Salão Oval recentemente, respondendo a uma pergunta sobre um debate contínuo entre seus assessores sobre os méritos do programa de vistos H-1B.

Muitos dos conselheiros de imigração de Trump, incluindo Stephen Miller, seu vice-chefe de gabinete e arquiteto de sua agenda de imigração, acreditam que o programa permite que as empresas americanas contratem estrangeiros de forma mais barata do que os americanos com mesma formação.

Mas executivos de tecnologia, incluindo o aliado próximo de Trump e CEO da Tesla, Elon Musk, dizem que o programa é vital para poder contratar os melhores talentos em todo o mundo. Trump já havia expressado apoio a essa visão. 

Os conselheiros de Trump compartilham amplamente a opinião de que os tipos de imigrantes que entram no país ilegalmente — bem como por meio de canais humanitários e até mesmo alguns programas familiares, como os que permitem que cidadãos americanos patrocinem irmãos adultos para a obtenção de green cards — podem ser prejudiciais para a sociedade. Trump e seus assessores culparam, nem sempre com precisão, o número de imigrantes no país pelo aumento do custo de vida, incluindo os preços de moradia e de automóveis — e por prejudicar o funcionamento de escolas e hospitais públicos.

Assimilação cultural

Há também uma sensação generalizada entre muitos dos apoiadores mais fervorosos de Trump de que os imigrantes estão desgastando o tecido do país por não aprenderem inglês ou não conseguirem assimilar a cultura local.

A crença central de que o governo deve ser capaz de garantir maior controle sobre os tipos de pessoas que entram no país tem sido a filosofia predominante de Trump desde que ele concorreu à presidência pela primeira vez em 2016. Sua visão ganhou uma maior aceitação pública após um influxo recorde de migrantes para o país durante o governo do ex-presidente Joe Biden, especialmente entre os residentes de cidades e estados azuis onde a crise foi sentida de forma aguda.

Biden também, e em alguns casos de modo controverso, protegeu muitas dessas pessoas da deportação, tornando-as elegíveis para algo chamado “status de proteção temporária”. Trump agora está começando a reduzir essas proteções, primeiro revogando o status de cerca de 300 mil migrantes venezuelanos que chegaram aos EUA desde 2023. Essas pessoas se tornaram repentinamente deportáveis — e no fim de semana seu país de origem fechou um acordo com os EUA para receber algumas delas de volta.

A forma como Biden lidou com a imigração irritou os eleitores e deu a Trump uma grande vantagem nas eleições de novembro. Trump está aproveitando esse apoio para promulgar mais políticas para restringir o acesso ao país, embora as pesquisas mostrem que os americanos ainda apoiam amplamente as formas legais de imigração.

“Ele está pegando carona nessa crença mais dominante de que, agora, as pessoas sentem fundamentalmente que é injusto o modo em que os imigrantes estão chegando. É injusto furar a fila”, disse Clifford Young, presidente de pesquisas da Ipsos, que está escrevendo um livro sobre o nativismo nos EUA.

A pesquisa do Wall Street Journal mostrou que os eleitores apoiam o desejo de Trump de proteger a fronteira e deportar imigrantes com antecedentes criminais. Mas muitos outros elementos de seus planos atraem oposição substancial.

Por exemplo, 70% das pessoas se opõem à deportação ilegal de imigrantes que estão nos EUA há uma década, que pagam impostos e que não têm antecedentes criminais, segundo uma pesquisa recente feita pelo jornal.

Por uma margem de 2 para 1, os eleitores se opõem à tentativa de acabar com a cidadania por nascimento, a disposição constitucional que diz que aqueles nascidos nos EUA são cidadãos. E cerca de 65% dos americanos apoiam o aumento da imigração legal para os EUA.

Bandeira americana exposta em frente a residência nos Estados Unidos. Foto: AdobeStock

Risco à reputação dos EUA

Adotar uma mentalidade anti-imigrante pode acabar prejudicando a reputação dos EUA, depois de décadas promovendo a ideia de que os países ricos podem enriquecer reassentando refugiados de todo o mundo, disse Krish O’Mara Vignarajah, presidente da Global Refuge, agência de reassentamento de refugiados com sede em Baltimore.

“Quando lideramos, outros países seguem, e quando recuamos, outros países usam isso como desculpa”, disse ela. Na semana passada, a Global Refuge recebeu uma ordem do Departamento de Estado de “parar o trabalho”, com instruções de não fornecer assistência de reassentamento aos refugiados que acabaram de chegar.

É praticamente garantido que muitos dos movimentos de Trump levarão a ações judiciais, e não é provável que ele seja capaz de implementar totalmente sua visão. Um juiz já interrompeu sua mudança da cidadania por nascimento antes que ela entrasse em vigor.

E os críticos dizem que ele está ignorando mais descaradamente as leis que considera prejudiciais à sua agenda. Por exemplo, Trump emitiu uma ordem executiva declarando que a migração na fronteira sul é uma “invasão” e suspendendo as leis de asilo porque eram “ineficazes” contra a ameaça. Contudo, ele retorna ao cargo com um judiciário muito mais amigável aos seus planos.

Ele aplicou uma lógica semelhante à suspensão de outros programas que o Congresso autorizou, incluindo o programa de admissão de refugiados, que foi pausado por pelo menos quatro meses.

“Na verdade, ele está alinhando à prática de asilo com o que as pessoas acham que ela deveria ser”, disse Mark Krikorian, diretor executivo do Centro de Estudos de Imigração, que defende menos imigração.

Escreva para Michelle Hackman em [email protected]

Traduzido do inglês por InvestNews

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