Nesta terça-feira (5) milhões de eleitores americanos devem ir às urnas decidir quem será o próximo presidente dos Estados Unidos, em um processo bastante diferente do brasileiro.
Ainda assim, milhares de eleitores já se anteciparam à data e começaram a enviar as cédulas de votação pelos correios. Não são todos os estados que oferecem essa facilidade. Dos 18 que permitem, têm destaque a Califórnia e Washington D.C.
Outra peculiaridade é o tempo que leva a apuração dos votos. No Brasil, a adoção da urna eletrônica permite que o resultado seja sabido no mesmo dia. Já nos Estados Unidos, a apuração pode levar dias, conforme avalia The New York Times, já que a contagem varia de estado para estado. Se em estados como a Georgia a apuração sai no mesmo dia, em Nevada e no Arizona, a contagem pode levar dias.
A escolha do dia
Pela legislação eleitoral americana, que começou a ser escrita em 1845, as eleições presidenciais devem ser realizadas no dia seguinte à primeira segunda-feira de novembro, garantindo assim que as eleições sejam realizadas numa terça-feira, desde que este dia não seja o primeiro do mês.
LEIA MAIS: Dólar a R$ 6,00 e pressão sobre os juros: o contágio do ‘Trump trade’ para o Brasil
A principal explicação para essa escolha passa pela realidade socioeconômica dos americanos em meados do século XIX. Assim como no Brasil — em que a realização das eleições em um domingo contribui para a participação dos cidadãos trabalhadores — naquele período em que a regra foi criada, nos Estados Unidos, grande parte dos cidadãos eram trabalhadores rurais. Por isso, o início de novembro representava a escolha mais sensata uma vez que trata-se o período de entressafra.
LEIA MAIS: Como os 2 milhões de imigrantes brasileiros podem ser afetados se Trump voltar à Casa Branca
Já a decisão de se realizar na terça-feira é outra escolha prática. Domingos eram reservados para ir à igreja. Já a quarta-feira era o dia em que os fazendeiros iam à feira vender seus produtos. E aí, optou-se pela terça-feira para que os eleitores tivessem tempo de se deslocar até os centros de votação em viagens que poderiam levar algumas horas – até mesmo um dia inteiro.
O que é, afinal, o colégio eleitoral?
Mas não é só o dia da realização da votação que é diferente do que acontece nas eleições brasileiras. Nos Estados Unidos, a eleição é indireta, ou seja, o presidente não é escolhido pelo voto direto dos eleitores. E o país adota o Colégio Eleitoral, um sistema em que são escolhidos os delegados que representam os eleitores de cada estado.
Todos os estados têm um número específico de delegados, que obedece a um critério populacional. Para vencer, um candidato precisa alcançar a maioria dos 538 votos do Colégio Eleitoral, ou seja, 270 votos.
LEIA MAIS: América Latina se prepara para impacto das eleições dos EUA sobre comércio e tarifas
A contabilização dos votos desses representantes é bem complexa do que parece. Dentro do grupo de delegados de cada estado, o voto da maioria vai prevalecer. Por exemplo, se um estado tem cinco delegados, o partido que formar a maioria no estado leva todos os votos.
Por mais que possa parecer mera burocracia, o sistema de eleição distrital acaba tendo um impacto grande para a vida política do país. Enquanto que, em países com eleições majoritárias há um grande número de partidos, democracias que adotaram o sistema distrital acabam concentrando poder em duas ou três linhas ideológicas.
Só Trump e Kamala são candidatos?
Quem vê o noticiário sequer cogita que possa haver qualquer resultado que não seja a vitória de Donald Trump ou de Kamala Harris. A realidade é que existem dezenas de outros nomes na disputa, como, por exemplo, Jill Stein que é médica e concorre à presidência pelo Partido Verde.
Já Chase Oliver é candidato pelo Partido Libertário, com a defesa do armamentismo e dos direitos LGBTQ+, e foi eleito pela revista Rolling Stone como o político mais influente da sua ideologia. Outro que lançou seu nome da disputa, de forma independente é o professor e autor progressista Cornel West.
Ainda houve uma tentativa de reeleger o sobrenome Kennedy para um novo mandato na presidência da maior economia do planeta, mas Robert F. Kennedy Jr. — sobrinho do ex-presidente assassinado John F. Kennedy — suspendeu a sua candidatura em agosto e declarou apoio ao republicano Donald Trump.
O que são estados pêndulo?
Outra consequência da escolha do voto distrital é o aumento do poder decisório dos Estados. No fim das contas, Estados que são historicamente muito republicanos ou muito democratas raramente vão mudar de posição de uma eleição para outra.
O oposto disso são os swing states ou estados pêndulo que, durante as eleições presidenciais, não apresentam uma preferência clara e consistente por um dos dois principais partidos (Democrata ou Republicano). Esses estados alternam seu apoio entre candidatos dos dois partidos, dependendo das questões e dos candidatos de cada eleição.
Como resultado, são considerados decisivos, uma vez que, por serem imprevisíveis, têm o potencial de influenciar o resultado final no Colégio Eleitoral. Por esta razão, são os palcos das maiores disputas por votos.
Da lista de indecisões, têm destaque Nevada (com 6 votos no colégio eleitoral), Arizona (11 votos), Wisconsin (10 votos), Michigan (15 votos), Pensilvânia (19 votos), Carolina do Norte (16 votos) e Geórgia (16 votos).
Lá é voto impresso?
Além de permitir o voto pelo correio, cada distrito de cada estado americano tem ainda a possibilidade de escolher como o eleitor poderá depositar seu voto. Segundo a fundação Verified Voting, mais de dois terços dos eleitores americanos, 68,8%, irão votar com cédulas marcadas à mão.
Outros 19,6% devem utilizar alguma forma física de cédula gerada por meio de dispositivo eletrônico. E apenas 11,6% poderão votar por meio de sistemas completamente eletrônicos, assim como é feio no Brasil. A maior parte dos distritos que aceita o voto eletrônico estão concentrados em estados no sul do país, como é o caso da Louisiana, Mississipi, Texas e Tennessee.
Resultado
A disputa pelo cargo mais alto no país mais rico do planeta tem sido profundamente marcada por debates irreconciliáveis em questões como a imigração, a crise climática, as ameaças geopolíticas, e condução da política fiscal e monetária — com impactos para o mundo todo.
E cada nova declaração dos dois principais candidatos parece jogar ainda mais incerteza sobre o resultado — que pode levar dias para sair.
As principais notícias e desdobramentos das eleições americanas você encontra no InvestNews.